Juraci M. Veloendas

Juraci M. Veloendas

Parte de MIM – Minha vó Francisca

Eu devia ter uns onze anos, quando, pela primeira vez, ouvi falar de cartomante e consulta de cartas. Embora tenha ascendência cigana, venho de uma educação rígida e tive um pai ateu que sempre procurou fazer valer o seu ponto de vista.

Era uma época de preconceitos, sendo comum o homem mandar na família e a mulher cuidar da casa. Os filhos brincavam no quintal, afastados das conversas dos adultos, ficando as meninas separadas dos meninos, mas, mesmo assim, eu amei a minha infância...  

Voltando ao tema... As oportunidades de aprender algo sobre as cartas eram raras e eu, é claro, não poderia perder nenhuma. Olhinhos brilhantes de uma menina sempre atenta, já interessada em ouvir.

Só que, “essas coisas”, como se tinha o costume de dizer, não eram incentivadas, por que achavam que isso poderia mexer com a cabeça de quem as lia.

Naquele tempo, nada disso era ensinado, não era costume: primeiro, por que ninguém ensinava aquilo que poderia lhe valer como meio de vida; segundo, só poderia passar o conhecimento quem o tivesse, o qual, como regra geral, ficava para os ciganos e os ciganos só o transmitem para os seus descendentes.

É fato que nada é imposto e que os cargos são escolhidos conforme a natureza que cada um apresenta.  Por exemplo, a minha avó era totalmente voltada para a saúde, rezava as pessoas, fazia os seus remédios com o conhecimento que tinha das ervas e elas voltavam a se sentirem bem e fortes. Suas garrafadas, xaropes, chás, pastas e emplastos, mais uma boa alimentação de quem vive do que planta e cria. Era assim que ela nos tratava.

Lembro-me como se fosse hoje, a minha avó me rezando e a sensação indescritível de bem estar, o quanto era bom aquele momento, a paz reinava e me punha a dormir, de modo que eu não notava o tempo passar e, por mim, ela poderia continuar a rezar mais e mais!

Toda a minha infância, em se tratando de saúde, eu me lembro de minha avó Francisca me curando, mas isso era para todo mundo que precisasse, ela não discriminava as pessoas e a sua fé em Deus era inabalável.

Parece que não, como a gente aprende, mesmo quando não existe esta proposta, pois isso se fixou em minha mente com tanta admiração, que ela sempre foi minha inspiração.

Todos nós somos dotados de talento, ninguém é desprovido.

Eu também, uma jovem garotinha cheia de curiosidade pelos mistérios que a vida podia me ensinar.

Imagina! Da minha parte já se manifestava uma inclinação pelos oráculos, mas só fui começar a mexer nas cartas com uns... quatorze anos.  Quando minha ex-cunhada entrou na cozinha de minha mãe e me entregou meia folha de papel almaço escrita em caneta vermelha frente e verso.  Neste papel, continha a distribuição do baralho comum (aquele que as pessoas jogam para se distrair) e ao lado de cada carta e seu naipe correspondente havia uma palavra chave.

Pois bem!   

A partir daí, sempre procurei jogar cartas em minhas horas vagas e é claro que isso acrescentou muito para o meu desenvolvimento. Sem nenhum instrutor, eu jogava sempre que possível para ver como que o meu dia seria e assim poderia obter uma resposta de minha leitura no mesmo dia.

Fui treinando e ganhando intimidade com as cartas. Uma vez que não existe um jogo igual ao outro, eu precisava adentrar em seu mistério e isso só poderia acontecer mantendo a relação constante com as cartas e dando tempo ao tempo. Ou seja, já que o acesso ao conhecimento era difícil, o exercício se fez fundamental. Bem, nada disso na época se passou conscientemente, eu queria ficar com as cartas e conversar com elas e esses detalhes é que fui pegando, percebendo nesta relação de amor que se iniciava.

Quando fiz os meus dezesseis anos, mais ou menos, é que comecei a fazer as interpretações dos jogos, das pessoas mais íntimas e daqueles que lhes eram próximos também.

Atendi por nove anos com as cartas comuns, até me casar aos vinte e cinco anos. Foi quando parei. Depois de uns quatro anos, aos poucos fui voltando à antiga prática.

Mais adulta e já tendo sentido a dor da separação que me foi imposta pelo meu casamento (o marido também era cético), me entreguei com muito mais afinco aos estudos, chegando a níveis de intensas pesquisas diárias por cinco anos consecutivos.

Isso mesmo. Eu precisava saber sentir por mim mesma, não me interessava na época ler os testemunhos de outros, pois buscava a minha vivência e experiência para ter base pessoal na leitura, até porque foi assim que comecei.

A sede do saber começou a aumentar e me interessei por conhecer outros oráculos. O primeiro dessa época foi o Tarô, tendo feito alguns cursos, depois a Quiromancia e, em seguida, a Astrologia e as cartas de Mlle. Lenormand.  Também participei de um curso de final de semana sobre essas cartas de Mlle. Lenormand. Aqui faço uma ressalva, esses cursos só servem como apresentação. Você precisa se dedicar muito depois, ainda que pareça ser uma enxurrada de informações, mas na verdade não se trata disso, são só algumas informações dentre as muitas mais que você precisará adquirir, pois elas não te dão a base de que você precisa para fazer uma leitura realmente íntegra.

Ao citar a quiromancia devo citar também a Regina Ferrari, que, além de ter me apresentado esta arte fascinante, inseriu-me na área Esotérica aos 33 anos e, a partir daí, passei a atender profissionalmente. Dois anos depois, ganhei o jogo das moedas e, posteriormente, os dados e, do mundo espiritual de luz, ganhei a vidência para esses dois oráculos, de modo a interpretá-los, na época, com tantos detalhes como num jogo de cartas. A numerologia veio como conseqüência natural dos estudos que fiz a respeito.

Hoje tenho 57 anos. JÁ! Como o tempo passa rápido!

Pra você vê! E até hoje convivo com o preconceito, seja religioso, social ou cultural.         Há aqueles que ainda em alto e bom tom dizem: “esta prática é de gente ignorante!”.

MINHA NOSSA! A arte de adivinhar é tão antiga quanto à história do mundo, encontrando-se em diversas civilizações, ignorar isso é o mesmo que desconhecer a sua própria história e subestimar a inteligência do homem até os tempos de hoje. O que seria um absurdo!

Porém não me sinto vítima, acho que tudo que se repete tende a nos ensinar, mas aquele que pratica o exercício da ignorância nela permanece. 

Esta área tem bastante a ensinar e todos nós muito a aprender. Aliás, como toda a área humana, leva as pessoas a serem eternos estudantes.

E por falar nisso, interessei-me a fazer este site, devido à superficialidade de informações encontrada na área. Informações muitas vezes contraditórias e distorcidas.

O conhecimento tem a ver com a história, que tem a ver com a origem. Preservar a história é como preservar as nossas raízes e o nosso passado, além do respeito e reconhecimento pelas pessoas que acrescentaram para nós, com a sua presença e dedicação, deixando-nos seus registros. Não se ignora tamanho fato IMPORTANTE. Digo isso porque tenho encontrado livros escritos baseados nas cartas de Mlle. Lenormand sem que ela seja sequer citada.

O importante é continuar em frente, sempre em ordem crescente como uma espiral

Adoro adivinhar! Seja através das cartas ou de outros tipos de oráculos, como os dados, as moedas, a leitura das mãos e os diversos mapas astrais que nos levam a descobrir aspectos importantes sobre a vida das pessoas e que merecem a nossa atenção.

Não posso mensurar a quantidade de vezes em que me emocionei atendendo algum cliente. Desvendar os mistérios, situações em que a pessoa não sabe como sair, tirá-la do sufoco, desmistificar seus medos que pela imaginação muito se fantasia, acalmar a sua carga de ansiedade... Conter os impulsos da maldade quando se está prestes a fazer uma besteira, a tomar uma decisão precipitada... Esclarecendo, orientando, trazendo a paz e o equilíbrio. Em fim, é muito boa a sensação de servir ao próximo quando necessário e assim sendo útil à sociedade.

Eu penso que todos nós, encontramo-nos juntos na matemática de Deus. Somos como uma corrente interligada, por isso não nos cabe dar as costas de forma prática, fria e egoísta para os assuntos alheios, só por que não nos dizem respeito; quando, em se tratando do contrário, sentimo-nos profundamente ofendidos e abandonados.

Saber que estou aqui para somar, acrescentando o bem-estar no coração do aflito, transmitindo a ele a autoconfiança que, por movimentos circunstanciais, se perdeu e o lembrando do quanto é capaz de resolver as coisas por si mesmo. Ver o seu rosto que, ainda há pouco, estava ensopado de lágrimas, agora, sorrindo, é muito gratificante.

Sinto a essência das pessoas, que, em sua grande maioria, é muito boa e pura como a de uma criança, mas que, ao se revestir de um corpo adulto, às vezes, muito se confunde e aos outros, contradizendo tudo que deseja de bom para si.

E a oração! Pois é, uma vez o mentor me disse que eu não orava para o mundo, mas punha todo mundo para orar, mesmo aqueles que não freqüentam um templo e nem têm uma religião podem estar conectados a uma força sublime.

Creio que todos nós somos carentes em graus e proporções diferentes e, por causa disso, nos desequilibramos e a nossa vida também.  

O meu trabalho consiste em receber essas pessoas e conscientizá-las de que, tudo que precisam encontra-se nelas. 

Não são os oráculos que determinam o caráter e a personalidade do homem. Os oráculos revelam as nossas qualidades e os nossos vícios. O que é uma variante do nosso espírito e é da nossa inteira responsabilidade.

O melhor é não mudar em nada o que Deus criou, e sim, manter. Mudar em nós a forma de pensar e ver, fazendo uso da nossa consciência superior.    

É, meus amigos, já se vão 39 anos nessa prática. Estou contando apenas com o tempo de leitura e não desde quando comecei a estudar.

Que sorte a minha! Quanto aprendi e pude crescer com este trabalho!

Viver de um trabalho o qual se ama, acredita, respeita e ainda ganhar por isto! Não tenho palavras para expressar o meu apreço e gratidão a Deus pelo destino feliz que ele me deu!

Obrigada, muito obrigada, obrigada mesmo, notadamente, a Deus e a vó Francisca.